terça-feira, 22 de novembro de 2011

As Polacas - Flores do Lodo

No feriado da República pude ir assistir no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio a peça As Polacas - Flores do Lodo, de João das Neves.

A peça trata da vida das "polacas" no Brasil, mulheres vindas no leste europeu fugindo da guerra, da fome e da intolerância religiosa que acabaram na prostituição. Por isso o termo até hoje tem conotação pejorativa. Algumas já eram prostitutas e viam o Brasil como terra de grandes oportunidades. Outras foram enganadas. Mas o importante é que no final elas se uniram para manter a si e às suas raízes, mesmo se adaptando ao nosso país. Criaram uma associação de ajuda mútua, que as amparava em caso de doença, e um cemitério, onde podiam ser enterradas com dignidade dentro de sua religião.

As polacas, além de mulheres, imigrantes e prostitutas eram judias. E aqui foram rejeitadas pelos próprios judeus que vieram para cá fugindo também da perseguição religiosa na Europa. Na verdade essa rejeição dura até hoje, pois há uma briga para mantê-las fora do cemitério que elas construíram, o cemitério de Inhaúma.

A intolerância é um tema recorrente na peça, pois elas não eram aceitas pelos judeus, havia a disputa entre os diversos grupos de prostitutas e, no final de suas vidas, há a intolerância de seus filhos, que se envergonham da vida que suas mães levaram e não compreendem tudo que elas passaram para criá-los.

O sofrimento perspassa a peça no início ao fim. Há uma festa de casamento, mas pressente-se que o final não será feliz. Há momentos trágicos que soam cômicos, mas o riso, quando sai, é dolorido. Muitas desistem pelo caminho.

Tudo isto é contado na peça, de forma não linear e sendo contextualizado por imagens e música. A interação com a plateia começa antes da peça, o que torna tudo mais palpável, mais real. Afinal, aquelas personagens são pessoas e estão ali conosco.

Bestriz Kushnir, a mais famosa pesquisadora das polacas não gostou da peça. Disse que não respeita os fatos históricos. Isso eu não posso confirmar, mas garanto que a peça mais do que entreter, nos faz refletir. Pois o sofrimento e a intolerância ainda estão aí.

Além de tudo as memórias destas mulheres, que lutaram por toda sua vida está se perdendo e o teatro, mesmo que ficcionalmente, está ajudando a mantê-la.


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