quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Capitães da areia

Resenhas do livro e do filme ficam para depois. O que me importa agora são as crianças.

Hoje um aluno emigrante da Bahia me disse que esses meninos existem, vagam pelas praias, "ladrõezinhos e malandros" em suas palavras. Gostavam de arrumar confusão.

Com os olhos abertos por Amado, olhos que já naturalmente percebem as coisas de outro modo, vi conjuntamente duas versões de uma história em apenas um relato.

Não conheço a Bahia. Grande parte de minha vida morei em uma cidade pequena. Não lembrava com a mesma carga emocional de certas coisas  com que hoje me deparo no centro do Rio e demais bairros.

Moradores de rua na Região dos Lagos sempre foram escassos. Os grupos do Rio englobam 30, 70... é até onde consigo contar.

Crianças que trabalham... nunca tinha visto em Cabo Frio. Crianças, entre 4 e 8 anos, sempre há vendendo doces, correndo perigo, passando fome e frio, morando embaixo de viadutos.

Um noite, passando férias em hotel na Lapa, em uma pizzaria em frente aos arcos, uma menina de uns 6 anos vem nos vender amendoim. Eu automaticamente caio no choro, um choro difícil de conter diante de um irmão menor que esperava do lado de fora. Difícil de conter diante de todas as crianças que tem de encontrar um jeito de sobreviver por sua própria conta neste mundo.

A verdadeira definição de marginal. Uma criança.

Como aquela vendendo chocolates em Bangu às 22 horas de uma noite fria. Será que ela não estava com fome? Não pudemos descobrir, pois chorávamos.

Eu sempre choro.

No final das contas essa é a realidade: há muitas crianças em muitas ruas do mundo em muitas épocas. E só. Não há heróis, não há vítimas. Só pessoas tentando viver.

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