quarta-feira, 30 de junho de 2010

Prova surpresa

Pois é, que felicidade, prova surpresa oito da manhã de quarta-feira após muitos dias dormindo pouco e em meio a uma crise de depressão. E eu não estou sendo sarcástica não, isso realmente me deixa feliz, uma aula a menos para assistir (peraí, eu não assisti essa!) e eu já tinha estudado o que caiu. E mesmo que não tivesse estudado ia conseguir me virar, então é só lucro, menos uma coisa com que me preocupar.

A nota de Lógica sai amanhã. Será que passei?

Agora só faltam dois trabalhos para daqui duas semanas. Mas hoje à tarde tem mais um. O show não pode parar.

PS: outra imagem sem créditos...

terça-feira, 29 de junho de 2010

Está acabando...

O primeiro semestre.

A copa enrolou todo meu trabalho, todo meu planejamento, sempre tem jogo em dia de aula.

E tem a faculdade. Hoje foi a última prova de Lógica. Pronto, capítulo encerrado. Estudei feito louca, espero conseguir um bom resultado.

Agora só faltam as outras três materias. Dois trabalhos e uma prova, ainda não posso descansar, há muito o que ler, o que pensar, o que fazer.

Cansa, mas é divertido, estou adorando.

 PS: imagem pega com pressa no Google, fico devendo a referência.

sábado, 12 de junho de 2010

Psiquiatra japonês acusa queda no consumismo à esquizofrenia

Isso é uma coisa que faz a gente pensar: houve uma queda no consumo no Japão, se as coisas continuarem assim isto poderá afetar a economia do país. Então um psiquiatra (não, ele não tem nada de economista) diz que a causa disto tudo é esquizofrenia e depressão em massa. Sim, para ele grande parte da juventude japonesa sofre de doença mental. Como o próprio artigo comenta em nenhum momento ele tenta descobrir o que causou a queda no consumo (falta de dinheiro mesmo) e diz que devemos ensinar aos jovens que o consumismo é uma virtude, que se você não gastar seu dinheiro o governo irá tomá-lo de você de qualquer maneira devido a crise e mais um monte de asneiras. Segue o artigo do site Sankaku. Caso você queira visitar o site recomendo que tenha mais de 18 anos e retire as crianças de perto do computador. A propósito, o artigo é em inglês, mas Google ou Babel Fish traduzem para você!


The Japanese media have increasingly been raising concerns that Japan’s younger generations are no longer the bastions of mindless consumer capitalism they once were, with potentially dire consequences for the nation’s economy; a psychiatrist has even gone so far as to say this is a result of mass schizophrenia.
Psychiatrist Hideki Wada, known for a number of books and television appearances as well as some academic publications, claims the drop in consumption is not tied to anything so mundane as Japan’s long-running economic slump, but is instead a result of mental illness.
When asked what he considers to be the cause of the so-called “consumption collapse” amongst Japanese young people, he claims that it is an “illness” which can be explained through clinical schizophrenia and depression, which he theorises as being endemic amongst Japanese.
Explaining this apparently completely unsubstantiated claim, he theorises that a loss of individuality caused by schizophrenia contributes to making people more susceptible to group trends, and that as a result when young people see others refraining from consumption they follow this trend (he does not approach the issue of why people might be consuming less in the first place).
As a countermeasure he suggests doubling income taxes for workers and then allowing them to claim general consumption as expenses, in order to force people to buy rather than foolishly save their money – “if they don’t spend their money the government will take it from them, so it’ll be best for them to spend it all.”
He also proposes education for recalcitrant consumers – “Previously we taught that saving was a virtue, but we should be teaching that consumption is a virtue instead. We should teach that if people don’t spend, the country will gradually decline.”
For a psychiatrist to abuse the definition of a serious mental illness by applying it wholesale to an entire generation on the grounds that they do not feel the need to own cars or buy Louis Vuitton bags seems particularly grotesque, though at least he stops short of proposing compulsory medication.
Most actual young Japanese can easily propose a plausible alternative explanation: “because we have no money,” though unfortunately the Japanese mass media seem resolutely intent on ignoring such an obvious explanation.

Ética e Kant

Artigo do meu professor de Ética. Boa leitura!

Ètica: com Weber , contra Kant

Ao longo deste ensaio *, estivemos trabalhando com uma importante dicotomia entre dois tipos de ética: a deontológica e a teleológica. Como dissemos, caracteriza o primeiro tipo as éticas de Immanuel Kant e Joseph Butler entre outras; caracteriza o segundo as éticas de Aristóteles e John Stuart Mill entre outras.
Como vimos, de acordo com uma ética deontológica, tudo que importa é o cumprimento de uma norma de justa conduta, sem levar em consideração as intenções do agente, as circunstâncias em que ele exerce sua ação e as previsíveis conseqüências advindas desta mesma. No entanto, de acordo com uma ética teleológica, o agente não deve deixar nunca de levar em consideração justamente aquilo que a deontológica desconsidera completamente:
    (I) as intenções do agente moral.
    (2) as circunstâncias dentro das quais ele exerce sua ação.
    (3) as previsíveis conseqüências da mesma podendo ser inferidas por ele [i.e. qualquer ser humano adulto em plena posse de suas faculdades mentais e dotado de discernimento, não necessariamente de qualquer forma de conhecimento especializado].
Quando da leitura de um importante ensaio de Max Weber, Politik als Beruf (A Política como Vocação) * *, deparamo-nos com uma distinção de dois tipos de ética: Gesinnungsethik (ética da convicção) e Verantwortsungsethik (ética da responsabilidade).
Antes de examinarmos o que entende ele por uma e por outra, deter-nos-emos numa passagem anterior em que ele se refere a uma “ética absoluta”, e tudo indica tratar-se de uma alusão à ética kantiana:
“Há , por fim, o dever da verdade. É também ele incondicional, do ponto de vista da ética absoluta (...) Para dizer a verdade, se existe um problema de que a ética absoluta não se ocupa, esse é o problema das conseqüências” (Weber, 1993, pp.112-3).
Weber considera as conseqüências da ação o fator mais relevante na conduta ética e aqui é imprescindível que o deixemos se expressar em suas próprias palavras:
    Desembocamos, assim, na questão decisiva. Impõe-se que nos demos claramente conta do fato seguinte: toda a atividade orientada segundo a ética pode ser subordinada a duas máximas inteiramente diversas e irredutivelmente opostas. Pode orientar-se segundo a ética da responsabilidade ou segundo a ética da convicção. Isso não quer dizer que ética da convicção equivalha a ausência de responsabilidade e a ética da responsabilidade, a ausência de convicção. Não se trata disso, evidentemente. Não obstante, há oposição profunda entre a atitude de quem se conforma às máximas da ética da convicção – diríamos, em linguagem religiosa, “O cristão cumpre seu dever e, quanto aos resultados da ação, confia em Deus – e a atitude de quem se orienta pela ética da responsabilidade, que diz: “Devemos responder pelas previsíveis conseqüências de nossos atos”. (Weber, 1993, p.113, o grifo é nosso).
    [obs. Na nossa cabeça não consegue entrar a idéia de uma ética digna desse nome, que não leve em consideração essa última recomendação weberiana!!!].
Está claro, portanto, que isso que Weber chama de “ética da convicção” nada mais é do que ética do tipo deontológico, ao passo que aquilo que Weber chama de “ética da responsabilidade” nada mais é do que ética do tipo teleológico. A máxima caracterizadora da primeira seria plenamente endossada por Kant, para quem tudo o que importa é o cumprimento cego do dever, sem dar a mínima importância para as previsíveis conseqüências da ação desempenhada.
O dever, por exemplo, é jamais mentir, ainda que a conseqüência advinda de não mentir seja a morte da própria mãe * * *. Pensador extremamente sensato, Weber se coloca visceralmente contra a tal da ética da convicção, que só pode alimentar os piores fanatismos trazendo as mais indesejáveis conseqüências. Primeiramente, Weber caracteriza o cego radicalismo incapaz de levar em consideração as conseqüências de uma ação:
    Perderá seu tempo quem busque mostrar, da maneira a mais persuasiva possível, a um sindicalista apegado à ética da convicção, que sua atitude não terá outro efeito senão o de fazer aumentarem as possibilidades de reação, de retardar a ascensão de sua classe e de rebaixá-la ainda mais – o sindicalista não acreditará.
    [obs. A referência de Weber a “um sindicalista”, vem bem a calhar, uma vez que um líder sindical está transformando o Brasil numa república anarco-sindicalista, sonho dourado dos pelegos gerados por Vargas, de João Goulart e Leonel Brizola].
Ainda neste mesmo parágrafo, logo a seguir, ele caracteriza os expedientes ad hoc de que costumam se servir os partidários da ética da convicção:
    Quando as conseqüências de um ato praticado por pura convicção se revelam desagradáveis, o partidário de tal ética não atribuirá responsabilidade ao agente, mas ao mundo, à tolice dos homens ou à vontade de Deus, que assim criou os homens. O partidário da ética da responsabilidade, ao contrário, contará com as fraquezas comuns do homem (pois, como dizia muito procedentemente Fichte, não temos o direito de pressupor a bondade e a perfeição do homem) e entenderá que não pode lançar a ombros alheios as conseqüências previsíveis de sua própria ação. Dirá, portanto, “Essas conseqüências são imputáveis à minha própria ação”. (Weber, 1993, pp.113-4).
Parece que o protonazista Johann Gottleib Fichte (1762-1814) tinha ao menos o mérito de ser contra, avant la lettre, o desequilibrado J.J.Rousseau e seu nobre selvagem.
* Referimo-nos ao nosso ensaio inédito Sete Tipos de Mentira: aspectos lógicos, éticos e psicológicos
* * Max Weber: “A política como vocação” em M. Weber: Ciência e Política: Duas Vocações, São Paulo, Editora Cultrix, 1993.
* * * Vide a este respeito Mario A.L. Guerreiro: “Argumentando contra Kant: em defesa da mentira dentro de especiais condições” em Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n.o 159, Immanuel Kant: Bicentenário.
Revista Jus Vigilantibus, Quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Sobre o autor:

Mario Guerreiro
Mario Antonio de Lacerda Guerreiro é doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Autor de Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000) . Liberdade ou Igualdade? ( EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002). Co-autor de Significado, Verdade e Ação (EDUF, Niterói, 1985); Paradigmas Filosóficos da Atualidade (Papirus, Campinas, 1989); O Século XX: O Nascimento da Ciência Contemporânea (Ed. CLE-UNICAMP, 1994); Saber, Verdade e Impasse (Nau, Rio de Janeiro, 1995; A Filosofia Analítica no Brasil (Papirus, 1995); Pré-Socráticos: A Invenção da Filosofia (Papirus, 2000) Já apresentou 71 comunicações em encontros acadêmicos e publicou 46 artigos. Atualmente tem escrito regularmente artigos para www.parlata.com.br,www.rplib.com.br , www.avozdocidadao.com.br e para www.cieep.org.br , do qual é membro do conselho editorial.

Fonte de ambos textos: Jus Vigilantibus

O Que é Esclarecimento? - Kant

Li esse texto e achei incrível. Tenho ouvido muitas críticas ao Kant, me parece que está na moda, assim como me parece estar na moda falar bem do Nietzsche. O que eu penso é: Pessoas tem qualidades e defeitos, dizem coisas boas e ruins. Não vou desprezar tudo que alguém diz por causa de uma opinião mal-colocada ou até mesmo idiota. Esse é um bom texto, recomendo veementemente.


Essa uma versão diferente da do livro que eu tenho. Mudam palavras, a forma dos parágrafos, mas o texto é o mesmo. A fonte é esta aqui. Recomendo a visita, pois o site contém alguns comentários extras. Aviso que fiz uma pequena adaptação: tirei as notas de rodapé, mas estão lá no site. Recomendo também a leitura do livro onde tive meu primeiro contato com este texto: Textos Básicos de Ética - De Platão a Foucault, de Danilo Marcondes. Informações aqui.

O Que é Esclarecimento?
(1784)
 
Immanuel Kant
 
Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade auto-imposta. Menoridade é a inabilidade de usar seu próprio entendimento sem qualquer guia. Esta menoridade é auto-imposta se sua causa assenta-se não na falta de entendimento, mas na indecisão e falta de coragem de usar seu próprio pensamento sem qualquer guia. Sapere aude! (Ouse conhecer!). “Ter a coragem de usar o seu próprio entendimento” é, portanto, o motto do Esclarecimento. Preguiça e covardia são as razões de a maior parte da humanidade, de bom grado, viver como menor durante toda a sua vida, mesmo depois de a natureza a muito tempo ter livrado-a de guias externos. Preguiça e covardia demonstram porque é tão fácil para alguns se manterem como tutores.
É muito confortável ser um menor. Se eu tenho um livro que pensa por mim, um pastor que age como se fosse minha consciência, um físico que prescreve a minha dieta e assim sucessivamente, não tenho então necessidade de empenhar-me por conta própria. Se eu posso pagar, não tenho necessidade de pensar. Muitos poderão discordar comigo nessa matéria: os próprios guardiães que se encarregam de cuidar para que a esmagadora maioria da humanidade – e, dentro dela, todo o sexo feminino – não alcance a maturidade, não apenas por ser desagradável, mas extremamente perigosa. Tais guardiães tornam estúpido seu gado doméstico e cuidadosamente se previnem para que suas dóceis criaturas não tomem caminho próprio sem seus arreios. Assim, eles mostram para seu gado o perigo que pode ameaçá-los caso pretendam andar por sua própria conta.
Na verdade, o perigo não é realmente tão grande quanto parece. Afinal, depois de tropeçar um pouco, todos aprendem a andar. Entretanto, exemplos de tropeços intimidam e geralmente desencorajam todas as novas tentativas. Portanto, é muito difícil para o indivíduo agir por sua própria conta e superar a menoridade, que se torna para ele quase uma segunda natureza. Assim, mesmo que esteja já amadurecido, o indivíduo é desde o início incapaz de usar seu entendimento por conta própria porque nunca se permitiu tentar fazer isso. Dogmas e fórmulas – estas ferramentas mecânicas para usos razoáveis (ou, pelo contrário, abusivos) das dádivas naturais dos indivíduos – são os grilhões de uma duradoura menoridade. O homem que se livra deles dá um salto incerto acima do abismo, mas este tipo de movimento livre não é comum. Eis a razão para o fato de que apenas poucos homens caminham decididamente e saem da menoridade, cultivando seus próprios pensamentos. No entanto, é praticamente certo que o público possa esclarecer-se. De fato, basta que a liberdade seja dada para que o esclarecimento torne-se praticamente inevitável.
Sempre haverá pensadores independentes, mesmo entre os auto-intitulados guardiães da multidão. Uma vez que tais homens livrem-se do jugo da menoridade, derramarão sobre si o espírito de uma apreciação razoável do valor humano e de seu dever de pensar por conta própria. É interessante observar que o público que se manteve anteriormente sob o jugo destes guardiães, quando é incitado à revolta por alguns deles – que são incapazes de qualquer esclarecimento –, força-os posteriormente a permanecerem submissos. Isso demonstra o quanto é perigoso implantar preconceitos: estes eventualmente voltam-se contra seus próprios autores ou contra os descendentes dos autores. Portanto, apenas lentamente o público deve alcançar esclarecimento. Uma revolução pode levar ao fim de um despotismo pessoal ou de uma avarenta e tirânica opressão, mas nunca leva a uma verdadeira reforma dos modos de pensar. Novos preconceitos tomarão o lugar dos antigos como guias de uma multidão irracional.
O esclarecimento requer nada além do que liberdade – e o mais puro de tudo isso é a liberdade de fazer uso público da razão em qualquer assunto. Por outro lado, o uso privado da razão freqüentemente pode ser restrito, mas isso não necessariamente retarda o processo de esclarecimento. Atualmente, ouço clamores de todos os lados: “Não questione!”. Os oficiais militares dizem: “Não questione, mexa-se!”. O coletor de impostos: “Não questione, pague!”. O pastor: “Não questione, creia!”. Somente um único soberano em todo mundo pode dizer: “Questiona tanto quanto quiseres, e sobre o que quiseres, mas obedeça!”. Nós encontramos restrições à liberdade em todo lugar. Mas qual restrição é nociva ao esclarecimento? Qual restrição é livre de erros e qual antecede o esclarecimento? Eu respondo: o uso público da razão deve ser livre todo o tempo e somente isso pode levar esclarecimento à humanidade.
Por “uso público da razão” entendo o uso que um homem, como scholar, faz da razão diante de um público letrado. Eu chamo de “uso privado da razão” aquele uso que um homem faz da razão em um posto civil que lhe foi confiado. Em alguns negócios que afetam o interesse da comunidade, um certo mecanismo [governamental] é necessário, em relação ao qual alguns membros da comunidade permanecem passivos. Isto cria uma unanimidade artificial que servirá para o cumprimento dos objetivos públicos, ou ao menos para proteger tais objetivos da destruição. Aqui, questionar não é permitido: deve-se obedecer. Uma vez que um participante deste mecanismo se considera ao mesmo tempo parte de uma comunidade universal (uma sociedade mundial de cidadãos) – lembrando que ele pensa por sua própria conta como um scholar que racionalmente se dirige ao seu público através de seus escritos –, ele pode efetivamente questionar – mas nada sofrerão os assuntos com os quais ele está associado parcialmente como membro passivo. Portanto, seria um completo infortúnio se um oficial militar (no cumprimento de seu dever ou sob ordens de seus superiores) quisesse questionar a adequação ou utilidade de suas ordens. Ele deve obedecer. No entanto, como um scholar, ele certamente não poderia evitar de reconhecer os erros no serviço militar e deve expor suas visões ao julgamento de seu público. Um cidadão não pode deixar de pagar os impostos que lhe são cobrados – e impertinentes críticas a esses impostos podem ser punidas (como um escândalo que pode provocar uma desobediência geral). Não obstante, tal homem não viola os deveres de um cidadão se, como um scholar, publicamente expressa suas objeções a respeito da inadequação ou possível injustiça de tais impostos.
Um pastor também é limitado a pregar para sua congregação de acordo com as doutrinas da igreja à qual serve, pois ele foi ordenado para isso. Mas como um scholar ele tem completa liberdade, na verdade, a obrigação, de comunicar a seu público todos os seus pensamentos cuidadosamente examinados e construídos a respeito dos erros nessa doutrina e expor suas proposições a respeito do progresso do dogma religioso e das instituições eclesiásticas – o que não é nada que possa sobrecarregar a sua consciência. No entanto, quando ensina seguindo seu ofício de representante da igreja, o pastor representa alguma coisa da qual ele não é livre para ensinar tanto quanto observar. Ele fala como alguém que é empregado para falar em nome e sob as ordens de alguém. O pastor dirá: “Nossa igreja ensina isso ou aquilo; estas são as provas que ela usa”. Nesse sentido, ele beneficia a sua congregação tanto quanto possível por apresentar doutrinas nas quais não acredita completamente, mas se compromete em ensiná-las pois não é completamente impossível que elas não possam conter alguma verdade oculta. Em todo caso, ele não encontrou nada nas doutrinas que contradiga o coração da religião. No entanto, se ele acredita que tais contradições existem, ele não estaria mais habilitado para administrar seu ofício com clareza de consciência. Ele teria que renunciar ao seu cargo.
Portanto, o uso que um scholar faz de sua razão diante da congregação que o emprega é somente um uso privado (para uma audiência doméstica), não importa o quão importante seja. Em vista disso, o pastor, como um pregador, não é livre e nem deve ser livre se ele está encarregado das ordens de alguém. Por outro lado, como um scholar que fala para seu público (o mundo) através de seus escritos, o ministro – no uso público de sua razão – goza de liberdade ilimitada para usar sua própria razão e para falar por si. Que os guardiães espirituais do povo devam tratar a si mesmos como menores é um absurdo que resultaria em perpétuos absurdos.
No entanto, deve uma sociedade de ministros, digo um Conselho Eclesiástico, ter o direito de se comprometer, por juramento, com uma doutrina inalterável de modo a assegurar-se como guia perpétuo acima de todos os seus membros e, através destes, acima do povo? Eu digo que isso é praticamente impossível. Tal contrato – concluído para privar a humanidade de qualquer novo esclarecimento – é simplesmente nulo ou vazio, mesmo que tenha sido confirmado por um poder soberano, parlamentos e pelos tratados mais solenes. Uma época não pode fazer um pacto que comprometa as idades futuras, não pode evitar que elas aumentem suas significantes inspirações, purifiquem-se de erros e gradativamente progridam no esclarecimento. Isso seria um crime contra a natureza humana, cujo destino assenta-se justamente em tal progresso. Portanto, as idades futuras têm pleno direito de repudiar tais decisões como desautorizadas e ultrajantes. A pedra de toque de todas essas decisões – que devem tornar-se leis para um povo – baseia-se nesta questão: Poderia um povo impor tal lei a si mesmo?
Pode ser possível introduzir no momento presente uma ordem provisória enquanto se espera uma ordem melhor. Entretanto, enquanto tal ordem provisória continuar, cada cidadão – e, acima de tudo, cada pastor atuando como scholar – deve ser livre para publicar suas críticas das falhas das instituições existentes. Isso deve continuar até que a compreensão pública dessas questões vá tão longe que – unindo a voz de muitos scholars, mas não necessariamente todos – as propostas de reforma possam ser trazidas diante do soberano para proteger aquelas congregações que tenham decidido, de acordo com suas melhores luzes, alterar a ordem religiosa, sem prejuízo, entretanto, para aquelas congregações que queiram sinceramente permanecer nas instituições antigas. Mas concordar com uma constituição religiosa perpétua não passível a ser publicamente questionada por ninguém seria, como foi, aniquilar um período para o progresso do aperfeiçoamento humano. Isso deve ser absolutamente proibido.
Um homem pode postergar seu próprio esclarecimento, mas somente por um período limitado. No entanto, suspender o esclarecimento de uma só vez, para si mesmo ou para seus descendentes, é violar e pisar nos sagrados direitos do homem. O que um povo não pode decidir por si mesmo, menos ainda pode ser decidido por um monarca, pois sua reputação como administrador consiste precisamente na maneira que une a vontade de todo o povo com a sua própria. Se o monarca percebe que toda verdade ou suposto progresso [religioso] permanece regulado ao nível da ordem civil, ele pode para o restante das coisas da fé deixar seus súditos livres para fazerem o que acharem necessário para a salvação de suas almas. Salvação não é assunto para monarca; é seu atributo impedir que todo homem seja compelido por outrem em matéria de fé, para que possa promover a sua própria salvação da melhor forma possível. De fato, seria prejudicial para a sua majestade que o monarca se imiscuísse nestes assuntos e vigiasse os escritos nos quais seus súditos expõem suas visões [religiosas], mesmo quando baseado na mais alta inspiração, pois assim expor-se-ia à reprovação: Caesar non est supra grammaticos [César não está acima dos gramáticos]. É ainda pior quando o monarca degrada seu poder soberano de modo a apoiar o despotismo espiritual de uns poucos tiranos no Estado em prejuízo do restante dos súditos.
Quando nós perguntamos “Vivemos agora numa época esclarecida?”. A resposta é “Não”, mas vivemos numa época de esclarecimento. Tal como as coisas se apresentam agora, estamos longe de ver homens verdadeiramente capazes de usar sua própria razão em assuntos religiosos de forma confiante e correta sem guias externos. No entanto, temos óbvias indicações de que o campo de trabalho em direção à meta [da verdade religiosa] está sendo aberto agora. Mais ainda: os impeditivos contra o esclarecimento geral ou contra a saída de uma menoridade auto-imposta estão diminuindo gradativamente. Nesse sentido, esta é a idade do esclarecimento e o século de Frederico, o Grande.
Um príncipe não deve pensar que desqualifica a dignidade de seu estamento pelo fato de não considerar ser seu dever guiar seus súditos em assuntos religiosos; pelo contrário, ele deve deixá-los em completa liberdade. Se ele repudia a arrogante palavra tolerante, ele é em si mesmo esclarecido; ele merece ser louvado por um mundo gracioso e próspero, como um homem que primeiro soube libertar a humanidade da dependência (ao menos de guia) e deixar todos usarem sua própria razão em assuntos de consciência. Em seu reinado, pastores honrosos – atuantes como scholar, malgrado os deveres de ofício – podem publicar livre e abertamente suas idéias para o mundo avaliá-las, mesmo que desviem aqui ou ali da doutrina aceita. Isso é tanto mais verdadeiro para as pessoas que não estão sujeitas a juramento de ofício. Este espírito de liberdade está espalhando-se para além das fronteiras [da Prússia], mesmo onde tem tido que lutar contra os impeditivos externos estabelecidos por um governo que falha em compreender seu verdadeiro interesse. [Frederico II da Prússia] é um claro exemplo de que a necessidade de liberdade não provoca o menor estorvo à ordem pública ou à unidade da comunidade.
Quando deliberadamente não se mantém os homens no barbarismo, eles gradativamente superam tal condição por si mesmos. Eu tenho enfatizado o ponto principal do esclarecimento – o homem sair de sua auto-imposta menoridade – primeiramente em assuntos religiosos porque nossos administradores não têm interesse em se manter no papel de guardiães de seus súditos nas artes e nas ciências. Acima de tudo, menoridade em religião não é apenas nociva, mas desonrosa. Mas a disposição de um governo soberano em favorecer a liberdade nas artes e ciências vai mais além: o governante sabe que não há perigo em permitir que seus súditos façam uso público de sua razão e publiquem suas idéias a respeito da melhor constituição, assim como as suas cândidas críticas às leis básicas existentes. Nós já temos um flagrante exemplo [de tal liberdade], e nenhum monarca pode igualar-se àquele que nós veneramos.
Somente o homem esclarecido, que não teme as sombras e comanda um exército ao mesmo tempo bem disciplinado e numeroso como mantenedor da paz pública, pode dizer aquilo que [o soberano de] um estado livre não pode ousar dizer: “Questiona tanto quanto quiseres, e sobre o que quiseres, mas obedeça!”. Assim, nós observamos aqui, como em qualquer outro assunto humano (em que quase tudo é paradoxal), uma surpreendente e inesperada cadeia de acontecimentos: se um amplo grau de liberdade civil parece ser vantajoso para a liberdade intelectual das pessoas, isso ao mesmo tempo estabelece insuperáveis barreiras; entretanto, um grau menor de liberdade civil dá a oportunidade para o espírito expandir-se até o limite de sua capacidade. Por isso, a natureza tem cultivado cuidadosamente a semente dentro de uma casca dura – nomeadamente, o desejo de e a vocação para o livre pensamento. E quanto mais este livre pensamento gradativamente resiste aos modos de pensamento do povo, mais os homens tornam-se cada vez mais capazes de agir em liberdade. Enfim, o livre pensamento age até mesmo nos fundamentos de governo, e o Estado acha isso agradável para tratar o homem – que é agora mais do que uma máquina – de acordo com sua dignidade.
 

Os gatos são realmente criaturas malignas...

Olimpíada de Língua Portuguesa - Escrevendo o Futuro



Estou participando e achando incrível. É o tipo de ação em que existe a real possibilidade de mudar a educação brasileira. É como um concurso de redação, só que não pode ser chamado assim pois seria subestimar o poder dessa Olimpíada. Realizamos oficinas com os alunos para que estes possam aperfeiçoar (ou mesmo aprender) sua escrita e leitura. Essa é a maior meta, está lá no Caderno do Professor: que os alunos leiam e escrevam melhor. Os Cadernos do Professor possuem todas as diretrizes e atividades e veem acompanhados de um rico material de apoio. Pena serem tão poucos os exemplares para os alunos, apenas 10.

No final e aluno aprende e o professor também, pois apesar de tudo ser bem explicadinho é necessária uma boa preparação e alguma pesquisa. Existem ainda cursos presenciais e online e uma comunidade para troca de informações entre os participantes. Passarei a receber em casa material para me preparar mais ainda para a próxima. Ano que vem não haverá Olimpíada, então será o tempo de me preparar.

Seguem as informações oficiais.

A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, realizada pelo
Ministério da Educação e pela Fundação Itaú Social, com coordenação técnica do
Cenpec – Centro de Estudo e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária,
desenvolve ações de formação de professores, com o objetivo de contribuir para ampliação do conhecimento e aprimoramento do ensino da escrita. Uma das
estratégias é a realização de um concurso de produção de textos que premia
poemas, memórias literárias, crônicas e artigos de opinião elaborados por alunos
de escolas públicas de todo o país.

Em 2010, poderão participar do concurso professores e alunos do 5º ano (4ª série) do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio.

Participe e ajude seus alunos a descobrir a força que a escrita tem.
Saiba mais!

Visitem também a Comunidade, há muito material interessante nela.

Luís Vaz de Camões

O artigo em destaque hoje na Wikipédia é sobre Camões. O que posso dizer? Ele era um cara legal, escreveu um ótimo livro que eu recomendo, Os Lusíadas. Agradeça a ele também por a língua portuguesa ser mais simples e compreensível hoje. Acredite, era pior.

Para saber mais fatos leiam o artigo que transcrevo em parte aqui (ou seja, copiei da página inicial da Wikipédia):


Camões na gruta de Macau, em gravura de Desenne, 1817.
Luís Vaz de Camões (Lisboa?, c. 1524 — Lisboa, 10 de junho de 1580) foi um célebre poeta de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente.
Pouco se tem certeza sobre sua vida. Frequentou a corte de Dom João III, iniciou sua carreira como poeta lírico e se envolveu, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boêmia e turbulenta. Diz-se que por conta de um amor frustrado se autoexilou na África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu bravamente ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas. (leia mais...)

Sempre passo em frente ao Real Gabinete Português de Leitura (Rua Luís de Camões, nº 30, Centro - Rio de Janeiro) para ir à faculdade e me deparo com Camões e sua expressão marota.


Créditos da imagem.

Clipe decadentista

Para entrar no clima...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Linha do tempo da filosofia

Eu não tenho muitos problemas com história. Principalmente quando se trata de entender como as coisas aconteceram, o que causou, quais foram as consequências. Mas tenho um problema considerável quando se trata de lembrar em que ordem aconteceram as coisas, o que veio antes e o que veio depois.

Por isso busquei uma linha do tempo da história da filosofia. É bastante simples, o que facilita consultar, e completa: está divida em grupos de período, tempo e pensadores.

Fica aqui o link. Os créditos estão no próprio material.

sábado, 5 de junho de 2010

Apresentação tardia - sobre o blog e sobre mim

Algumas pessoas não devem compreender muito este blog. Não as culpo. Escrevo de impulso e sei que algumas vezes minha cabeça funciona de modo meio estranho. Lógica não é comigo. Por isso lhes apresento esta apresentação formal, embora atrasada.

O blog: Acho que este blog me acompanha desde 2005, talvez 2004. Não é o primeiro que escrevo, já tive blog em outros servidores. Mas este pessoalmente já teve outros nomes e funções. Inicialmente ele era chamado de "Cris City". Oras, sendo Cris parte do meu nome imagine sobre o que ele era? Sobre minha vida, sobre o que eu via. Um blog comum de adolescente. Ele comentou meu primeiro namoro, minha primeira faculdade, minhas primeiras ideias literárias e críticas. Morreu, junto com minha antiga vida. Apaguei todo o arquivo e comecei o "About the new". Comecei é a palavra certa. Ficou em branco, só com os links que visito com frequência. Estava mudando de cidade, começando a faculdade, indo morar sozinha com o namorado e os gatos, começando um novo emprego. Faz sentido o nome, não é? Mas agora tornei a postar, em "A última decadentista". Houveram outros nomes de teste que nem valem a pena ser comentados. Agora ele serve compartilhar as coisas que gosto, minhas ideias, algumas coisas que podem ser úteis para alguém na forma de conhecimento e que já me ajudaram e ajudam. Não comento muito, pois apesar de toda mudança ainda sou tão retraída quanto uma jaratataca. Poucas notícias pessoais sairão aqui, muito pouca opinião. Pelo menos por enquanto. É mais repasse, troca mesmo.

A última decadentista (Cris): Essa sou eu. Na verdade torço para não ser a única nem a última. Que seja a última no sentido de a mais recente, então. Mesmo que eu seja assim desde sempre. Por que decadentista? Ora, acho que já disse: eu vejo o mundo. E vocês acham que o que eu vejo é bonito? Sim e não. Mas o pessimismo prevalece. Não há em mim o tédio dos decadentistas originais, mas o drama sim. Ah! Como amo o drama! O ultra-romantismo! Enfim, me recomponho para continuar. O que mais posso dizer? Tenho duas matrículas no Estado do Rio de Janeiro, o que significa que passei em dois concursos públicos e me tornei servidora estadual. Dou aulas em escolas da Região dos Lagos. Língua Inglesa com adolescentes e Língua Portuguesa com EJA (Educação de Jovens e Adultos). Além disso sou caloura de Filosofia na UFRJ, vou ser Bacharel. Meu estado civil é de semi-casamento e tenho uns 7 filhos-gatos (Vivaldi, Miucha, Yume, Bethoveen, Osíris, Ruiva, Peter). Sou devoradora de livros, amo música (rock, samba de raiz, folk, J-pop, eletrônica, entre outros), tento desenhar e amo arte! Gosto bastante de quadrinhos, mangás, animes. Tenho muito interesse em aprender outras línguas, principalmente francês e japonês. Gosto de história e cultura de várias épocas e países.

Bem, é isso. Talvez isso possa explicar um pouco do que já escrevi e do que escreverei aqui. Ou não.

Para matar a curiosidade, isto é uma jaratataca, da família dos mustelídeos, animais fofinhos e ferozes como a doninha, a ariranha, a fuinha e o mangusto (é, também sou louca por animais e assisto muitos documentários. Sobre animais e tudo que me interessa. Bem, então assisto quase todos, já que documentários em si me interessam bastante!).



A Jaratataca é brasileira e não é um gambá!